sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Chuva de Verão


Sabe aqueles dias em que o calor parece que pega a gente pela garganta? Aqueles dias tão quentes, mas tão quentes que até a mais simples das atividades parece um suplicio? Você sabe, nesses dias, invariavelmente, os termômetros oficiais acusam máxima de 31º ou 32º, mas a sensação da gente é que a temperatura está uns 45º. Daí, qualquer objeto que esteja à mão, seja um jornal, uma pasta ou até uma tampa de panela, acaba virando um abano e você se pergunta se não é o caso de pedir um lanche e comer na mesa do escritório, melhor que encarar o sol do meio-dia...

Então, lá mais para o final da tarde (o horário é sempre este, final da tarde) começam a aparecer umas nuvenzinhas tímidas lá no céu.  No começo é só uma nuvem aqui, outra lá longe e brancas, lindas, de aparência completamente inofensiva. De repente, sem que você se dê conta, as nuvens se multiplicam, o branco se pinta de cinza escuro e os raios começam a pipocar no céu. E como é rápido este processo, nem 20 minutos atrás você olhou para o céu e se perguntou se esse calor ia durar para sempre...A chuva quando vem, não vem de mansinho não, chega com tudo, o maior aguaceiro. Parece que é chuva para lavar o mundo e, junto com ele, as nossas almas. O alívio que vem com ela é quase instantâneo, a temperatura parece que baixa uns 10º, bate um ventinho úmido, acaba aquela sensação de que respirar é um ato de heroísmo, já que o peito da gente parece que estava pesando uns 200 Kg.

Agora, se você quer saber se é uma chuva de verão, é fácil, basta olhar no relógio: se 15 minutos depois de iniciada a chuva, começarem a surgir os primeiros raios de sol, daí é batata, é mesmo uma chuva de verão. Nem faz diferença se a chuva não houver parado, pelo contrário, uma das características da chuva de verão é continuar caindo quando o sol já voltou. “Chuva e sol, casamento de espanhol; sol e chuva casamento de viúva”.

Como é gostosa uma boa chuva de verão e como é cada vez mais rara. Sei lá, acho que deve ser por causa do aquecimento global, sei que agora às vezes passa um verão inteiro sem que caia uma chuva de verão daquelas de verdade, daquelas que impressionam todos os sentidos da gente: mexem com nosso tato quando, como crianças, deixamo-nos refrescar pelos grossos pingos caindo em nossas costas, afetam nosso olfato devido ao cheiro de terra e mato molhados (e, veja você, o cheiro de terra e mato molhados pela chuva de verão é diferente do cheiro de terra e mato molhados pela chuva comum); atingem nossa audição com o barulho dos trovões e dos pingos caindo sobre as coberturas de metal, isso quando não vem acompanhada do granizo, outro sub-produto da chuva de verão; marcam nossa visão pela beleza dos raios e do arco-íris que, invariavelmente, se forma na fase sol-chuva; ficam em nosso paladar, como uma lembrança doce das gotas de mel que caem do céu.

Pois saiba você que algumas pessoas passam pelas nossas vidas como se fossem chuvas de verão. Chegam com a força de uma tempestade, mas, no dia da nossa existência, permanecem por meros 15 minutos. Essas pessoas nos causam fortes sensações, assim como uma chuva de verão. E são intensas como elas. São belas, reconfortantes, alegres, agradáveis, barulhentas e indispensáveis, assim com são as chuvas de verão. E rápido como aparecerem se vão, deixando no ar a sensação de que a qualquer momento vão voltar. Mas nunca voltam. Passam tão rápido pelas nossas vidas que deixam para trás, mais do que tristeza, uma grande melancolia.  E a certeza de que a nossa vida nunca mais vai ser a mesma. Mais do que o fato de que elas sejam breves, há que se lamentar que sejam raras: antes houvesse mais convivências assim para lavar e enxaguar as ruas da nossa existência.
                                                                                                                                      
                                                                                                                                      Ao amigo Marcelo


(texto gentilmente cedido por Sérgio Dentes)

Um comentário :

Anônimo disse...

Oi Nara, eu estava buscando uma definição para "chuva de verão" no google busca porque queria botar no meu perfil de orkut, já que ele se entitula CHUVA DE VERÃo e achei o teu blog, SEM ROTEIRO. Achei mt bacana!! O texto chuva de verão do sérgio é mt bem escrito e vc teve bom gosto de postá-lo no blog!
Enfim, estou te "seguindo" no blog!

abçs!