quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Caderninho


Um dia desses, eu li uma matéria na revista Cultura, a qual falava sobre o uso de caderninhos, agendas ou bloquinhos e minha cabeça começou a imaginar um monte de coisas como no desenho O Fantástico Mundo de Bobby.

Ufa! Fiquei feliz em saber que ainda existe um monte de gente que adora fazer, anotações em agendas, diários ou caderninhos como eu, e que não sou maluca, esquisita, atrasada ou coisa parecida...

Obviamente que tive um Diário quando criança com direito a cadeado e tudo o mais. Já na época da adolescência substitui por uma agenda a qual numa das folhas eu falava sobre o Rock in Rio, ACDC, James Taylor, Scorpions, enfim... Não fui! ainda era menor de idade e ali colocava a minha frustração e raiva, porque queria ir, rs. Mas o que me veio à lembrança, foram alguns diários famosos que me marcaram muito...
Como o de Anne Frank, uma adolescente judia, que escrevia o que sentia, pensava e o que fazia num esconderijo em Amsterdã, junto de sua família na tentativa de se esconder dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Anne dividiu seus sonhos, medos, amores, ilusões e desilusões com Kitty, seu melhor amigo, o diário que ganhou de presente no aniversário de 13 anos, sendo que hoje é atualmente um dos livros mais traduzidos em todo o mundo.

Ainda me lembro no filme Dança com Lobos, o qual o tenente John Dunbar, vivido por Kevin Costner teve um diário onde os dias decorriam e as páginas de seu diário iam se preenchendo, ocupando seu tempo até a chegada de seu novo amigo, um lobo. Foi triste quando esse diário caiu em mãos erradas e tudo o que estava ali escrito se acabou num instante.

Mas pode ser que para algumas pessoas o costume de fazer anotações seja por algum problema de memória, no meu caso reconheço que tenho lapsos de memória recente como o da peixinha Dory (Procurando Nemo), mas nada tão grave... Eu acho... Já que o fato de lembrar essas coisas que contei significa que talvez meus neurônios já não sejam os mesmos, mas consigo e ainda quero relembrar muita coisa, já que sou nostálgica de carteirinha... Meu caderninho é quase um amuleto, não ando sem ele de jeito nenhum. Ali têm todo tipo de informação, de telefones, frases que li e gostei, anotações, rabiscos e desenhos.

Adoro escrever a mão e não sou muito adepta dos meios de comunicações mais modernos. Sei muito bem que bebo dessa água da tecnologia, caso contrário não estaria aqui mais uma vez em frente ao pc... Mas no momento tenho repensado muito sobre as coisas mais simples da vida. E o meu caderninho ainda será por muito tempo a minha companhia e peso necessário, pois é sem dúvida também um companheiro inseparável.

Espero de coração que tenhamos muitas inspirações e independentemente se escrevemos num caderninho ou usando o teclado de um computador, que seja feito com sentimento e entrega, pois é na entrega que libertamos o que há de melhor em nós.

Termino com uma frase da minha heroína do dia, Anne Frank:

“O melhor de tudo é o que penso e sinto, pelo menos posso escrever; senão, me asfixiaria completamente”.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Doidas e Santas

Gosto muito da escritora gaúcha Martha Medeiros, me identifico muito com seus textos. Fiquei feliz ao saber que no último Enem em uma das questões havia uma citação do livro Doidas e Santas, o mesmo que virou peça teatral, com Ciça Guimarães estrelando. Compartilho um pedacinho do livro.


"Estou no começo do meu desespero/ e só vejo dois caminhos:/ ou viro doida ou santa." São versos de Adélia Prado, retirados do poema "A serenata". Narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo ou mais tarde um homem virá arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela indecisão - não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude. E encerra: "De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?"

Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz. Como pode uma mulher buscar uma definição exata para si mesma estando em plena meia-idade, depois de já ter trilhado uma longa estrada onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo ainda mais estrada pela frente? Se ela tiver coragem de passar por mais alegrias e desilusões - e a gente sabe como as desilusões devastam - terá que ser meio doida. Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção. Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?


Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe??? Nem ela, caríssimos, nem ela.


Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações, que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos pra cá, que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores, que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta e nem lembra mais.


Santa mesmo, só Nossa Senhora, mas, cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou? (Não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do.)

Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar "the big one", aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir, às vezes, que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo para o alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar uma cafetina, sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.


Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três destas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascinante.


Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só sendo louca de pedra.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Índia Tainá e o Lobo-Guará

A vida prega peças, pensamos que estamos preparados pra qualquer coisa. Mas quando um lobinho sai da toca bate um sentimento estranho de angustia, tristeza, sei lá...
Só o tempo irá dizer...vai passar...enquanto o tempo passa tem os presentes da vida como esse lindo texto que é sobre lobos, mas principalmente uma história sobre a vida, sobre encontros e despedidas, sobre o caminho, o caminho que todos os seres atravessam... A vida, em busca do seu próprio caminho.
A Índia Tainá e o Lobo-Guará

Desde o princípio a criaturinha não saía do pé de Tainá. Aonde quer que ela fosse, lá estava ela, abanando o rabinho, cheirando tudo e qualquer criatura que passasse em seu caminho. A índia, ao mesmo tempo em que achava graça daquele monte de pelos sempre seguindo seus passos, morria de medo de distraída, tropeçar e cair sobre aquele frágil ser, esmagando-o com seu peso.

A bugre era uma guerreira: dividia seu tempo entre os afazeres da oca, a lida no roçado e os muitos seres viventes que dependiam dela para quase tudo, a começar pelo seu marido que, se por um lado, sempre voltava da floresta com caça e ervas em abundância, por outro, era incapaz, até, de achar suas flechas sem a sua ajuda; depois, havia as cabras que forneciam o leite tão importante para a tribo e que era de sua responsabilidade que estivessem protegidas no cercado e alimentadas; agora, como se não lhe bastasse mais nada, ainda tinha aquele pequeno ser que, antes de ter sido adotado por ela, a adotara, sem que lhe houvesse restado alternativa.

E era um tal de preparar papinha de mandioca com leite, manter os pelos limpos e livre de parasitas, protegê-lo dos animais maiores e dos insetos peçonhentos, esquentá-lo entre suas pernas nas noites mais frias... Enfim, tudo que se esperava de uma mãe e sua cria. Ela reclamava, claro, porque fazia parte, mas ela adorava aquela coisinha que mais parecia um gatinho, quando grunhia pedindo atenção ou reclamando por comida. Mas não, não era um gatinho e nem, começava a desconfiar, um cãozinho...

Pois não se esperaria tal comportamento de um animal que foi domesticado há séculos: o gosto prematuro por sangue, os pelos eriçados e a posição de ataque ao menor sinal de movimento de outro bicho, o espírito mais inquieto à noite, principalmente naquelas de lua cheia... Bom, o que era Tainá não sabia, o que sabia é que cachorro não era.

Como todo filhote, o bicho era curioso e a curiosidade foi, aos poucos, vencendo o receio. Cada saída para explorar o mundo, cada incursão na floresta o levava para mais longe e por mais tempo. O coração de Tainá foi ficando mais e mais apertado: estaria sua cria preparada para os perigos que espreitavam? Saberia ela achar o caminho de volta depois de uma excursão mais aprofundada no interior da mata?

A índia percebia que estava perdendo o controle da situação: cada vez seu bebê demorava mais para responder aos seus angustiados chamados e cada vez voltava com sinais mais estranhos em seu corpo, sinal que locais mais e mais longínquos haviam atraído a atenção do pequeno aventureiro.

Nem adiantava que Tainá pedisse, implorasse, ameaçasse, gritasse, nada segurava sua cria perto de suas pernas, como tanto a incomodava tempos atrás. A guerra se mostrou definitivamente perdida para ela numa noite clara de lua cheia. Do nada, o bicho começou a uivar longamente. Era disso que se tratava, afinal, um lobo. Mas não era um lobo qualquer, era o seu lobo. E se tinha uma coisa que doía no coração da pobre mulher é que o infeliz há tempos já não lhe dirigia nenhum som, exceto uns poucos grunhidos para indicar que estava com fome ou sede, mas para a lua era capaz de uivar por horas.

Poucas semanas depois, o lobo partiu em um de seus passeios pela floresta e não mais retornou. Tainá ficou muito triste, mas, também, resignada. Aquelas fugidas para a floresta, as ausências cada vez mais prolongadas tudo isso haviam ajudado a preparar seu espírito para o desfecho que se avizinhava.

Nossas crias não são nossas crias, são crias da vida. Nem mesmo da mesma espécie elas são. Suas necessidades, não são as nossas necessidades, seus anseios, não são os nossos.

Exceto por um pequeno espaço de tempo em que são dependentes de nós, as crias cedo ou tarde seguirão seu próprio caminho.

Tainá sabia que havia cumprido seu papel da melhor forma possível: ela havia alimentado, aquecido, defendido, consolado, amparado e principalmente, amado seu lobinho. Agora só lhe restava esperar que o melhor de si houvesse passado para seu filhote e que ele cumprisse seu destino.

Às vezes, principalmente nas noites de lua cheia, Tainá ouve um uivo ao longe. Isto basta para trazer um enorme consolo ao seu coração.

(Sérgio Dentes)






domingo, 7 de novembro de 2010

Aluga-se

Estava eu fazendo o almoço de domingo com direito a trilha sonora do disco “Abre-te -Sezamo” de Raul Seixas de 1980 e ao ouvir Aluga-se (diga-se de passagem, censurada na época juntamente com o Rock das Aranhas) lembrei de uma história, a qual não sei se a fonte é confiável, mas vá lá...Diz a lenda que uma vez Raul encontrou o então senador da república Tancredo Neves em algum aeroporto do país por volta de 1979 e foi logo dizendo, obviamente chapado, Senador eu tenho a solução para o Brasil, vamos alugar a porra toda!”“

E isso não é conversa pra boi dormir...